quinta-feira, 24 de março de 2011

Do teatro militante à música engajada

(Carlos Lyra)

Caros amigos,

No excelente livro de Miliandre Garcia "Do teatro militante à música engajada" da Editora Fundação Perseu Abramo, lançado em 2007, há uma transcrição de uma entrevista minha a Afrânio Nabuco, repórter do Jornal Metropolitano, datada de 1960, que diz o seguinte: "Carlinhos Lyra considera tanto Noel quanto Caymmi ou Ary Barroso, totalmente ultrapassados. Apesar de possuírem algo de belo, não conseguem eles transmitir alguma coisa que realmente se infiltre no sentimento musical moderno. Possuem eles somente o poder de descrição, não conseguindo dizer algo de maneira coloquial."

O repórter usou de um sistema muito comum no meio jornalístico, de dizer o que pensa através da boca de outros inteiramente inocentes. Chamo isso de "o truque do ventríloquo". Tenho a declarar que em 1954, quando eu aprendia violão, as músicas que eu mais tentava tirar e tocar eram exatamente a do "ultrapassado" Dorival Caymmi, que até hoje reputo como um dos maiores compositores que conheço. Em 1959, pedi a outro "ultrapassado" Ary Barroso, que escrevesse a contra-capa de meu primeiro disco, o que ele fez satisfazendo um de seus maiores fãs, por ele tão influenciado. Isso sem falar de uma de minhas primeiras músicas, "Maria Ninguém", composta em 1956, exatamente inspirada em "João Ninguém" de autoria de mais um "ultrapassado", Noel Rosa. As asneiras do texto acima referido não condizem com minha maneira de pensar, ou mesmo de falar e escrever, como as do ventríloquo em questão. Pena só ter tido conhecimento dessa matéria, 50 anos depois, pelo livro de Miliandre.

Ainda no livro, há outros tópicos que gostaria de esclarecer, uma vez que depois do golpe militar de 64, a imprensa não teve a menor consideração com quem não fosse "sucesso de público". Os tópico são:

· "Carlos Lyra depois de 64, viajou com Stan Getz em turnês internacionais."

Realmente excursionei com Stan Getz pelos EUA, Europa, Japão e México, inclusive Brasil, onde eu só interpretava minhas próprias músicas, acompanhado pelo grupo de Getz e, também, divulgando a música brasileira pelo mundo.

· "Em 66 optou por residir no México... desligado dos acontecimentos do Brasil."

Além de realizar shows por todo México, em cada show insistia em acusar a ditadura militar no Brasil, o que me valeu ser ameaçado, pelo Embaixador brasileiro, de perder meu passaporte.

Ainda no México, em 67, fundei na Universidade, em companhia de estudantes das várias faculdades, um CPC (Centro Popular de Cultura), inspirado no CPC do Brasil, extinto em 1968 com a invasão das tropas na Universidade.

· "A nova esquerda não entendia como um compositor com atuação tão expressiva na década anterior, pudesse produzir "gingles" para propaganda e trilhas sonoras para a TV Globo."

Meu parceiro de "gingles", no México, era Gabriel Garcia Marquez, que na época, também, ajudou a traduzir "Pobre Menina Rica" para o espanhol, a qual montei no Teatro Colonial Mexicano.

Nunca tive a sorte de escrever uma trilha musical para novela (o que teria feito de bom grado, apesar dos patrulhamentos vigentes), sendo apenas autor de várias canções por eles incluídas.

· "Não participou in loco da realização do show opinião nem dos Festivais da Canção."

O show "Opinião" foi, em grande parte, escrito em minha casa, com minhas sugestões para inclusão de Zé Keti e João do Vale, por mim, de certa maneira, "descobertos" e levados para o CPC. As música de Zé Keti e João do Vale foram apresentadas por mim a Nara Leão.

Não participei dos Festivais da Canção, devido a minha concepção, exclusivamente pessoal, de que arte não é esporte e, portanto, não compete.

· "Passou a compreender o mundo e a responder aos problemas sociais, segundo matéria da época, pela ótica da Astrologia."

A Astrologia que eu apresentava era a Sideral, frontalmente oposta a Astrologia Tropical, vigente. A Astrologia Sideral fundada pelo irlandês Cyril Fagan e o americano Donald Bradley, contestam a Astrologia ainda hoje professada que ignora o fenômeno astronômico da Precessão dos Equinócios, onde devido ao movimento dos astros (afirmação que quase leva Galileu à fogueira), as pessoas não nascem, desde o ano 221, debaixo do mesmo signo. O livro que escrevi sobre o assunto foi prefaciado por dois astrônomos e se esta informação científica não interessou às "matérias da época" é apenas mais uma falha cultural do Brasil. Meu interesse por ciência e astronomia não é diferente do de Leonardo da Vinci, Goethe e de tantos outros artistas importantes.

· "Para o público e, sobretudo, a esquerda que então se constituía, o artista tinha, definitivamente, "virado a casaca"".

Quanto a tal calúnia, só posso contestar que além de não ser um comunista arrependido, continuo fiel aos princípios Marxistas (nunca Stalinista, Lenilistas, Fidelistas, etc...), desde 1960 quando compus a música para "A mais valia vai acabar, Seu Edgar" até os dias de hoje.

A mediocridade que se instaurou no país depois do golpe de 64, e que permanece até os dias de hoje em vários segmentos da sociedade, não era um obstáculo fácil de vencer por artistas que além de serem "realmente" de esquerda (não festiva ou patrulhadora), nunca estiveram dispostos a comprometer sua integridade tanto política como cultural e social.

Carlos Lyra

Inédita de Baden

Coluna Ancelmo Góis - 23/03

Uma música inédita de Baden Powell (1937-2000), nosso gênio do violão, será gravada agora.
“Carta branca”, dele e de Paulo César Pinheiro, foi descoberta por Soraya Ravenle na pesquisa de repertório para um CD que vai lançar pela Biscoito Fino.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Vinícius de Moraes, o livro


O livro Vinícius de Moraes, organizado por Ricardo Cravo Albin,  é um livro totalmente original, porque celebra  a promoção de Vinicius ao cargo de embaixador da Rebublica, no ano dos 30 anos de sua morte e meses depois de sua promoção.  
O Instituto Cultural Cravo Albin, por dois anos seguidos, amparado pela Fundação Alexandre de Gusmão do Itamaraty, que à frente estava o embaixador Jerônimo Moscardo, pressionou muito o governo do Presidente Lula, inclusive realizando um abaixo–assinado, para a aprovação, o mais rápido possível, do projeto de lei que nomeava Vinícius a embaixador do Brasil.
O livro contém um CD e um DVD, que são totalmente raros e diferentes, verdadeiros tesouros para qualquer colecionador.
Sobre a importância do Poeta, Cravo Albin diria apenas que ele sempre foi não apenas o maior poeta lírico do seu tempo, mas - e sobretudo - o pai da Bossa Nova e o pai dos filhos dela, como Carlos Lyra,  Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo e tantos  de seus memoráveis parceiros.
Carla Barros / ICCA - Assessoria de Comunicação
comunicacao@iccacultural.com.br
REPÚBLICA DO SAMBA – Memória e História da Cultura 
(Mauro Viana)
 
Projeto jornalístico multimídia: vídeo, jornalismo e música, em 3 tempos: passado, (vídeo), presente (talk-show) e futuro (música). Este formato integra e aproxima, no mínimo, 3  gerações e celebra a cultura do samba através de 3 momentos históricos. Para isso,  faz homenagens aos seus artífices resinificando a figura do mais velho (ancestral-padrinho),  abrindo espaço para o contemporâneo (convidado-presente) apontando para o futuro (novo talento).
O República do Samba nasceu do programa AWO-DUDU (Pele Negra – TV –Brasil – 1998). Revista eletrônica, o programa foi uma janela para veiculação do continente e da diaspora africanos, a partir da produção  do conhecimento.A continuidade do projeto, entretanto, ficou sob a dependência do Departamento de Marketing da emissora. Ou seja: patrocínio era a condição básica para a sobrevivência de Awo-Dudu. Passaram-se 6 meses e, nada de patrocinador. Na qualidade de produtor e âncora do programa, resolvi formatar um projeto temático e procurar outros espaços para viabilizá-lo. A idéia inicial era levar o projeto às comunidades. As dificuldades históricas emperraram nossas pretensões. Daí, o que fazer? “Diz que fui por aí... com a determinação debaixo do braço”... Na peregrinação pelos centros culturais do Rio de Janeiro, deparei-me com o Espaço Multimídia do Museu da República.
No dia 7 de maio de 1999, nasce o Afro-talk-Vídeo, cujos  primeiros convidados foram  a filósofa HELENA THEODORO e compositor WALTER ALFAIATE. Na seqüência vieram MUNIZ SODRÉ, (Teórico da Comunicação e atual Presidente da Biblioteca Nacional), NEI LOPES, IVANIR DO SANTOS (Ceap), ZEZÉ MOTTA, JUREMA BATISTA, RUTH DE SOUZA, JORGE COUTINHO, ZÓZIMO BULBUL, ZECA LIGÍERO (Diretor de Teatro e Escritor), NILCEMAR NOGUEIRA (Neta de Cartola), MARÍLIA BARBOZA  (Biógrafa de Cartola, Paula da Portela, Silas de Oliveira, Pixinguinha).
No ano seguinte, o jornalístico alcançou as culturas de vários países do tanto do continente africano,  quanto da diáspora. Depois vieram às visitas às  regiões brasileiras com destaque para culturas de matriz africana. Em 2002, um novo formato nos leva à cultura musical do Caribe, Estados Unidos, América do Sul e África.  Depois de mergulhar no Zouk, Jazz, Blues, Reggae e Samba, o público (através de pesquisa) escolheu a cultura do samba com tema fixo e permanente. Eis que nasce, então, o REPÚBLICA DO SAMBA – vídeo, jornalismo e música.
REPÚBLICA DO SAMBA,  10 anos de Museu-Vivo.
Na galeria do República do Samba brilham: ALDIR BLANC, WALTER ALFAIATE, MOACYR LUZ, BETH CARVALHO,  TIA SURICA, SEU ARGEMIRO,  SEU JAIR DO CAVAQUINHO, (Velha Guarda da Portela), famílias de CARLOS CACHAÇA, ZÉ KETY, BUCY MOREIRA, CARTOLA, SILAS DE OLIVEIRA,  MANO  DÉCIO DA VIOLA. Tem ainda: DORINA, RUBEM CONFETE, VELHA GUARDA MUSICAL DE VILA ISABEL, ALA DOS PERIQUITOS DA MANGUEIRA, ALA DOS BOEMIOS DA MANGUEIRA, GRUPO VILLA-LOBINHOS,  CLAUDIO CAMUNGUELO, JORGINHO CHINA, MÁRCIA MOURA, NEGRAS RAÍZES, BALUARTES DE TURIAÇU, BATUQUE NA COZINHA, BATIFUNDO, SURURU NA RODA, CASUARINA, SAMBA NA FONTE, PRIMITUDE e muito...muito
Carla Barros  / ICCA - Assessoria de Comunicação

sexta-feira, 11 de março de 2011

O velho no novo. Rádio Dica da MPB levará eternas emoções pelos novos meios midiáticos

Entrou oficialmente no ar no verão de 2011, a rádio do Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA), a DICA da mpb, que, integrada aos sites do instituto, pode ser acessada pelos endereços na internet  do Dicionário da MPB (http://www.dicionariompb.com.br/) e do Instituto Cultural (http://www.institutocravoalbin.com.br/), além do endereço http://www.dicadampb.fm/.
Criada pelo ICCA - com patrocínio da FAPERJ - e em parceria com as empresas de Design e Informática Estopim  e  Digicast, a  DICA da MPB – após 7 meses de experiência - nasce sob o signo do sucesso:  um canal de rádio e 10 canais de música, selecionadas pelo próprio Cravo Albin, com o melhor da MPB no período de 1881 a 1991. "Música, exclusivamente música", assim Cravo Albin definiu este novo projeto.
O ICCA, vanguardista por natureza e dono de um acervo fonográfico, com cerca de 30.000 discos de 12, 10 e 8 polegadas,  2.000 fitas sonoras em rolo, 700 em cassete e  5000 CDs  - tem, neste momento, o desafio de tornar todo este material disponível para um público amante da boa música e para universidades interessadas em pesquisar a evolução da MPB.
Em clima de dever cumprido e de gratidão, André de Barros, gerente executivo da Digicast, afirmou que "Sem o apoio intelectual do Ricardo Cravo Albin e o esforço de toda a equipe envolvida, não seria possível a criação da Dica da MPB".

Carla Barros  / ICCA - Assessoria de Comunicação