À quatro mãos



Vôo Silencioso - Ana & Mú  
(Heloisa Tapajós)

Parceiros na vida pessoal e na vida profissional, Ana Zingoni e Mú Carvalho lançam em 2011 o CD “Vôo silencioso” (Som Livre), gravado no estúdio Boogie Woogie, de propriedade dos dois artistas.

Mú Carvalho, pianista, compositor, arranjador, cantor e produtor musical, tem no currículo um vasto trabalho no cenário musical brasileiro, que inclui 16 discos anteriores – 12 com seu grupo A Cor do Som e quatro de carreira solo (“Meu continente encontrado”, “O pianista do cinema mudo”, “Óleo sobre tela” e “Ao vivo”). Sua assinatura, como autor e instrumentista, está também em várias trilhas sonoras para teatro, cinema e televisão.

Cantora e guitarrista, com participações em trabalhos de outros artistas, como Zé Renato e Roupa Nova, e em trilhas sonoras de novelas da Rede Globo, e também Embaixatriz da “Nuit Brèsilienne” da “Fête de la Musique”, de Montpellier (França), onde vem se apresentando desde 2008, Ana Zingoni tem sua estreia solo neste CD. 

O repertório do disco é exclusivamente de autoria de Mú Carvalho, à exceção de uma canção do amigo Edu Krieger. Mú assina todos os arranjos e desdobra-se em teclas ao piano, órgão, acordeom, wurlitzer piano, sints, vocoder, hohner clavinet, moog voyager e melotron. Na base, os dois artistas estão acompanhados por músicos de primeira linha: Ricardo Silveira (guitarra e violão), Jorge Helder (contrabaixo), Jurim Moreira (bateria) e Sidinho Moreira (percussão). O trabalho conta ainda com outras participações especiais.

O CD abre com Ana cantando a inédita “Cântico azul e branco” (Mú Carvalho, Pierre Aderne, Alexia Bomtempo e Marcelo Costa Santos), em compasso 6/8. 

Outra inédita, a swingada “Venha leve” (Mú Carvalho e Galvão), é solada por Mú com apoio vocal de Ana Zingoni e Paulinho Soledade. A faixa conta com a participação luxuosa de Vittor Santos (naipe de sopros).

Mú Carvalho e Ana Zingoni alternam seus cantares na balada “Olhos d’água” (Mú Carvalho, Pierre Aderne e Alexia Bomtempo), composta à beira de uma lareira com taças de vinho ao redor. 

Na voz de Ana e de Mú, “Swingue menina” (Mú Carvalho e Moraes Moreira), gravada originalmente por Mú com A Cor do Som no LP “Frutificar”, de 1979, e que veio a se tornar um dos maiores sucessos do grupo, ganha novo arranjo com direito a deslumbrante solo do saxofonista Nivaldo Ornelas.

Mais uma inédita, “Vamos somar meu bem” (Mú Carvalho e Galvão) vem na voz de Mú, com apoio vocal de Ana Zingoni e Paulinho Soledade, e traz a precisão do bandolim de Armandinho, companheiro de Mú no grupo A Cor do Som. As flautas sugerindo um maracatu, que Mú faz nos teclados, já anunciam a levada de baião da segunda parte da música.

“Um bom Bordeaux”, linda composição de Mú lançada no CD instrumental “O pianista do cinema mudo” (sob o título “Chapliniana Z”) ganha sensível letra de Marcelo Costa Santos com referências à história de Mú e Ana. Ana Zingoni se entrega inteira à canção e o resultado é uma interpretação maravilhosa e absolutamente tocante da música a ela dedicada. Nesta faixa, as presenças talentosas e sempre emocionantes de Vittor Santos (trombone), David Ganc (flauta) e Joana Queiroz (clarinete e clarone). 

“Quando a gente ama pra valer” (Mú Carvalho e Paulinho Tapajós), em solo de Ana, sucesso na trilha sonora da novela “Ti Ti Ti” (Rede Globo), tem a participação especial de David Ganc (flautas) e Aquiles Moraes (flugel), em arranjo de sopros do mestre Vittor Santos.

No maxixe inédito “Convite pra Gafieira” (Mú Carvalho e Luiz Caldas), Mú divide o microfone com Luiz Caldas, com apoio vocal de Ana Zingoni e Paulinho Soledade. Pra animar ainda mais o baile, as presenças irretocáveis de Nicolas Krassic (violino), Armandinho (bandolim), Edu Morelenbaum (clarinetes e clarone) e Paulo Cesar Barros (baixo).

“Onde todos estão” (Mú Carvalho e Cazuza), gravada originalmente no LP “Gosto do prazer”, de 1987, retorna cheia de balanço, mais uma vez na voz de Mú, com apoio vocal de Ana Zingoni e Paulinho Soledade.

 “A lua é testemunha” (Edu Krieger) ganha saborosa releitura na voz de Ana, fechando o repertório de um disco absolutamente delicioso!             


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+ JOBIM JAZZ - Mario Adnet
 (Heloisa Tapajós)

Dando continuidade ao projeto “Jobim Jazz”, de 2007, elaborado a partir de uma leitura jazzística de composições de Tom Jobim, Mario Adnet, um dos nomes de maior expressão da música popular brasileira contemporânea, lança agora em 2011 o CD  “+ Jobim Jazz” (Biscoito Fino).

Compositor, violonista, arranjador, cantor e produtor musical, Mario Adnet ingressou no cenário artístico ao final dos anos 70, como integrante do grupo Semente. 

O primeiro disco, em parceria com Alberto Rosenblit, foi lançado em 1980. Desde então, sua discografia vem se enriquecendo com vários títulos: “Planeta azul” (1984), “Pedra Bonita” (1994), “Villa-Lobos coração popular” (2000), os antológicos dois volumes de “Para Gershwin e Jobim” (2000 e 2001), “Rio Carioca” (2002), “Jobim Jazz” (2007), “Mvusica” (2007), “Samba meets Boogie Woogie” (2008) e “O samba vai” (2010).

Sua assinatura como arranjador está também em vários trabalhos de outros artistas, como Lisa Ono e Maucha Adnet, além de Tom Jobim. É de Mario o arranjo de “Maracangalha”, de Dorival Caymmi, gravado no CD “Antonio Brasileiro”, lançado por Tom em 1994 e premiado com o Grammy, na categoria Jazz Latino.

Paralelamente ao seu trabalho autoral, Mario assinou alguns dos mais maravilhosos projetos (CDs, DVDs, songbooks e espetáculos) sobre grandes compositores brasileiros: Moacir Santos (“Ouro Negro” e “Choros e Alegria”), projeto em parceria com Zé Nogueira; Tom Jobim (“Jobim Sinfônico”), projeto em parceria com Paulo Jobim; Luiz Eça ( “Reencontro” e “Legrand – Eça”); e Baden Powell (“AfroSambaJazz”), projeto em parceria com Philippe Baden Powell.

Na famosa entrevista que concedeu à "Revista Civilização Brasileira" nº 7, em 1966, Caetano Veloso já chamava atenção para a necessidade da retomada da linha evolutiva da música popular brasileira a partir das lições mais fundamentais da Bossa Nova. Tais lições permeiam todos os projetos de Mario Adnet, desde o início de carreira. Sua assinatura é sempre sinônimo de bom gosto, refinamento e talento. E a reverência aos grandes mestres, seja resgatando os arranjos originais ou em arranjos de sua própria lavra, conferem a Mario Adnet um lugar muito especial na história musical brasileira. E isto é o que se comprova, mais uma vez, com o deslumbrante CD “+ Jobim Jazz”.

O disco

“+ Jobim Jazz” traz os arranjos e o violão de Mario Adnet, acompanhado de profissionais do primeiro time da área instrumental brasileira: Marcos Nimrichter (piano e acordeom), Jorge Helder (baixo acústico), Ricardo Silveira (guitarra), Antonia Adnet (violão), Andrea Ernest Dias (flauta e flauta em sol), Zé Canuto (sax alto), Henrique Band (sax barítono), Marcelo Martins (sax tenor), Vittor Santos (trombone), Everson Moraes (trombone), Jessé Sadoc (flugelhorn e trompete), Aquiles Moraes (flugelhorn e trompete), Philip Doyle (trompa), Joana Adnet (clarinete), Jurim Moreira (bateria) e Armando Marçal (percussão).

Composições muito especiais de Tom Jobim foram selecionadas para formar o repertório: “O barbinha branca” (c/ Luiz Bonfá), do álbum “Luiz Bonfá”, de 1955; “O homem”, do álbum “Brasília Sinfonia da Alvorada”, de 1960; “Bonita” (c/ Ray Gilbert), do álbum “The Wonderful World of Antonio Carlos Jobim”, de 1964; “Antigua”, “Mojave” e “Wave”, do álbum  Wave, de 1967; “Takatanga”, do álbum Tide, de 1970. “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, do álbum “Stone Flower”, de 1970; “Boto” (c/ Jararaca), do álbum “Urubu”, de 1975; “Ai quem me dera” (c/ Marino Pinto), do álbum “Edu & Tom”, de 1981; “Marina del Rey”, do álbum Terra Brasilis, de 1980; “Samba de Maria Luiza”, do álbum Antonio Brasileiro, de 1994. 

Complementando a lista de canções, “Samba do avião”, do álbum “The Wonderful World of Antonio Carlos Jobim”, de 1964, trazendo citação de “Rhapsody in Blue”, de George Gershwin, na introdução, lembra a relação estética entre dois dos maiores nomes da música internacional de todos os tempos. 

“+ Jobim Jazz” é a verdadeira música brasileira, no que ela tem de melhor, seguindo seu curso irretocável no novo milênio, como um patrimônio deste país de talentos que abriga nomes como o de Mario Adnet.

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Rodas de samba no primeiro sábado de todo mês
(Sérgio Gramático Jr.)

Duas rodas de samba singulares têm agradado em cheio a todos os que são bons da cabeça e sadios do pé. As duas acontecem no primeiro sábado do mês, mas isso não é empecilho para curtir as duas, afinal, os horários são diferentes.

A que começa mais cedo, a partir das 13 horas, tem mais tempo de vida e fica no Armazém do Senado (armazém mesmo, com venda de secos e molhados inclusive), esquina da rua do Senado, com Gomes Freire, na Lapa. O charme dessa roda é que só se canta sambas de enredo clássicos. 

Vila 88? Salgueiro 84? União da Ilha 78? Portela 74? Pede com um sorriso que a rapaziada toca. Eu mesmo desencravei um Mangueira 73 (Lendas do Abaeté) e fui atendido.

A outra opção nasceu em março deste ano com o nome de “Pôr do Santa” e começa às 17 horas. O diferente desta roda é o local onde acontece. Lá no alto do morro Santa Marta, em Botafogo, na mesma laje onde o astro Michael Jackson gravou um clipe. A intenção é que se assista o pôr-do-sol ao ritmo do legítimo samba tradicional. 

Bem, as filas do teleférico são demoradas e para quem se arriscar a galgar os degraus da favela, não leva mais de 20 minutos para os fora-de-forma. Mas mesmo que não dê tempo de assistir o entardecer, o anoitecer vale demais a pena. As luzes da cidade desde a enseada até a Pedra da Gávea com as montanhas ao fundo e um tal de Redentor iluminado e bem pertinho são um deleite para as córneas.

Ah, sim. Independente da pacificação, o morro recebe o asfalto de sorriso largo.


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Botafogo, a zona sul de pé no chão
(Sérgio Gramático Jr.)

Botafogo é um pedaço singular da nossa Cidade Maravilhosa. Não só pela sua enseada de cartão postal, nem só pelos seus conhecidos engarrafamentos de fim de tarde e nem só pelas suas inumeráveis opções de cinemas, restaurantes, colégios, hospitais, igrejas e praças arborizadas. Na verdade por tudo isso junto e somado a uma característica inimitável. Botafogo é um bairro de subúrbio. Eis a sua singularidade. Ele é deliciosamente suburbano, mas categoricamente incrustado no tórax da zona sul.

Resiste ainda em alguns pontos (e tomara que para sempre) o casario da literatura Machadiana, enquanto sobem ligeiros prédios novos de arquitetura tão atraente, o que nos faz lembrar Caetano em “Sampa”: “...da força da grana que ergue e destrói coisas belas...”. São situações surgidas desse antagonismo de ser o improvável aonde não se espera. Pois no meio dessa luta estética, entre sacadas e varandões, o ponto de concordância são os bares de esquina.

Os bares que se mantém e que se proliferam suburbanamente pelas esquinas e meios de rua, dando ao bairro o charme boêmio e servindo de reduto para aquilo que lhe dá esse jeito único: o samba.

Sim, o samba, esse que é a mais legítima face brasileira, é o elemento responsável pela essência deste bairro carioca. Em Botafogo o samba não entra, nem sai de moda, ele é atemporal. É certo que o aumento demográfico tem trazido gente intolerante e egoísta, contrárias às boas rodas de samba nas mesas de bar. Mas isso não impede a resistência de alguns endereços onde os pandeiros e cavacos vão mantendo a tradição. Nem impede que novos espaços se abram para atrair uma juventude cada vez mais ávida por curtir nosso ritmo mais característico.

Compositores, músicos e cantores do calibre de Paulinho da Viola, Mauro Duarte, Walter Alfaiate, Niltinho Tristeza, Zorba Devagar, Anunciato, Mical, Miúdo e Vavá são crias do bairro. E quem também nasceu por lá, embora não tenha se fixado, foi Jovelina Pérola Negra. Não bastante, a escola de samba São Clemente é a agremiação da zona sul que mais vezes desfilou no grupo especial do carnaval carioca. Lembrando ainda o Foliões de Botafogo, que atualmente sai como bloco carnavalesco, mas se aventurou como escola de samba por mais de quinze anos e abrigou em sua ala de compositores a maior parte dos bambas do bairro.

A tradução dessa homogeneidade Botafogo/samba está gravada na delícia de música “Meu Botafogo querido” do compositor, também filho do bairro, Altamiro Freitas. O professor universitário e cavaquinhista Paulinho do Cavaco é um ferrenho propagador deste casamento, promovendo encontros periódicos entre os grandes sambistas do bairro. E tome de cultura preservada.

Pois os bares de Botafogo continuam a convidar agregadores todos os antagonismos. Seja no pioneiro “Cantinho da Fofoca”, passando pelo aclamado “Barba’s” e chegando ao “Belmiro” e ao “Sabor da Morena”. Assim vai sendo contada a história de um bairro, entre goles, acordes e samba de pé no chão. Exatamente como deve ser num subúrbio, bem aconchegado no coração da zona sul.

1 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto sobre o Vôo Silencioso, de Mú e Aninha, Heloísa! Você escreve com tanto sentimento que até parece ter algum parentesco com o tecladista Maurício, filho de Dona Flavita e de Seu Haroldo... Valeu!

Sandy

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